Inevitável não comentar as recentes revoltas no mundo árabe, ocorridas por desejos de uma vida não imposta e que me faz pensar sobre três questões: - Porque isto está ocorrendo? Como isto está se espalhando? E até onde isto pode chegar?
Para entender a primeira questão devemos considerar o processo colonizador do mundo Árabe iniciado no início do século passado. Neste processo as matrizes européias, especialmente a Inglaterra e a França, deram poderes (Força Militar) a determinados líderes tribais fragmentando todo o mundo Árabe localizado no norte da África e no Oriente Médio.
Tal fragmentação levou a população desta região a um encontro com a Miséria, com a Fome, com a Guerra e com a Peste, conhecidos como os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, durante anos.
Houve tentativas da criação de um Estado Árabe Unificado, mas a maioria de seus líderes sempre preferiu manter-se fragmentada, fazendo no máximo pequenas uniões como Bahrein ou a Arábia Saudita, e claro os países tradicionais como Síria, Turquia, Iraque e Irã nunca gostaram de serem liderados pelo Egito, lembrando aqui principalmente as idéias de Gamal Abdel Nasser, líder o qual os revolucionários de hoje certamente choram o seu assassinato e a morte de suas idéias de unificação.
Enfim, a situação de exploração jamais mudou, perdurando até hoje, ou seja, os que estão no poder exploram economicamente e politicamente os mais fracos. Contudo, atingiram o limite desta exploração e agora o povo, que perdeu quase tudo o que já não tinha, também perdeu o medo de enfrentar os seus ricos e armados ditadores.
Chamada por muitos de “Revoluções da Internet” (me incluo entre eles!) devido ao seu intenso tráfego de notícias relacionadas às revoltas, mostrou-nos em seu decorrer, mais uma vez, a “estranha” mania que nós ocidentais temos em enxergar nossa cultura nas culturas dos outros. (Para nós americanos ainda colonizados deve ser herança de Pinzón e Cortês!)
Após a derrubada de alguns ditadores podemos perceber que a Internet teve sim uma grande participação neste processo, mas para que nós ocidentais passássemos a pressionar nossos Governos a terem uma postura contra as ditaduras e a favor dos povos em opressão, o que no final dá certo, pois sem o patrocínio do capital ocidental os ditadores não existiriam.
O mundo Árabe, internamente, não utiliza a Internet como nós, e apesar dela ter sido um instrumento de divulgação de informações e marcação de encontros, deve ser considerada como o celular ou os jornais, todos sempre sob forte censura e controle. Na verdade os bons e velhos panfletos foram bem mais utilizados. A Internet não está entranhada nas relações sociais dos árabes como no ocidente, onde praticamente passamos a viver dentro dela.
A explicação da disseminação das revoltas encontra-se, mais uma vez, na opressão econômica e política sofrida, que foram tantas a ponto de produzir um sentimento de revolta coletivo, que já estava maduro antes mesmo das revoltas começarem. Necessitava se apenas de um estopim para liberar toda a energia comprimida.
E o fato veio pelas mãos do tunisiano de 26 anos Mohamed Buazizi ao atirar fogo no próprio corpo em frente a sede do governo em protesto contra os impostos e a corrupção policial.
Com o espalhar da notícia, pelos próprios jornais tunisianos controlados pelo Governo, ficou evidente para os outros oprimidos que a hora chegou. A revolução já existia em cada indivíduos destas comunidades, não precisou ser espalhada, bastou apenas ouvir o chamado inicial.
Resta-nos considerar a terceira questão, com certeza a mais difícil de responder, afinal as variáveis relacionadas ao futuro devem ser maiores do que o infinito.
Contudo é um fato que estes ditadores estão a décadas no poder. Podemos então pressupor que não existe oposição organizada nestes países, o que tornará muito complexa a formação imediata de um Governo, mesmo que provisório, refletindo diretamente no atendimento das necessidades básicas de suas populações. Sem dúvida tal processo demorará e dependerá muito da ajuda internacional.
Dado as considerações variáveis, me permito não prever nada mais, apenas desejar que os ares de liberdade e democracia espalhem-se pelo mundo inteiro, com a mesma amplitude e qualidade das belas histórias contadas por Sherazade em suas mil e uma noites.

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