“Povo”, “etnia” ou ainda “grupo étnico”, são termos que se referem a grupos de seres humanos unidos por um fator comum, tal como a nacionalidade, etnia e códigos lingüísticos, bem como demais afinidades históricas e culturais, como as torcidas organizadas dos times de futebol.
Estas comunidades humanas, de uma forma ou de outra e desde a pré-história, reivindicam para si uma estrutura social e política, cuja as ações são limitadas pelo território, podendo este ser físico ou virtual.
Sendo política um assunto inerente a todos nós humanos, nada mais natural que entendê-la, pelo ao menos para usá-la com a maior eficiência possível, preferencialmente em prol do coletivo.
Para isto necessitamos passear no tempo e verificar como esta atividade humana, muito antiga, se tornou uma atividade singular e de vital importância para nós, sendo o nosso ponto de partida a grande revolução ocorrida nas terras banhadas pelo mar Egeu, a mais de dois mil anos.
A revolução se deu com os antigos gregos da cidade de Atenas, que realizavam-se plenamente com o desenvolvimento e o legado deixado as futuras gerações em suas Polis, ou seja, exercer o objetivo comum era a principal realização de um grego. Esta necessidade de participação na esfera pública fez com que a POLÍTICA e o SOCIAL, o nosso dia-a-dia, caminhassem juntos, conceito bem descrito por Aristóteles quando disse que o homem é um “animal político” (Zoon politikón).
Era na ÁGORA, ou praça pública, onde acontecia a vida política e social da Polis. Durante o dia, nesta praça, os assuntos pertinentes ao coletivo ateniensse eram exaustivamente debatidos pelos seus cidadãos, pessoas com o direito de voto nas decisões coletivas.
Divididos em diversos grupos, os cidadãos debatiam o assunto em pauta durante as refeições ou diversões artísticas, e ao final do dia formavam uma OPINIÃO PÚBLICA. Uma vez votada no centro da Ágora, o resultado significava a vontade geral. Parece com a nossa democracia, não?
Os romanos, por sua vez, herdaram os princípios da vida na Polis da tradição ateniense, mas, já em um contexto onde as cidades atingiram uma dimensão que inviabilizava a participação direta como nas Ágoras. Para se ter uma idéia, Roma foi a primeira cidade a atingir 1 milhão de habitantes, somente Londres, quase dois mil anos depois e com a ajuda da industrialização, atingiria esta marca.
Diante da nova realidade, os romanos trocaram a POLIS por CIVITAS, cujo significado remete a relações de outra ordem, trazendo agora a conotação da associação sob um conjunto de leis, ou seja, como somos muitos teremos de constituir regras para a nossa convivência, as quais serão fiscalizadas e aplicadas pelos representantes do povo. Parece ou não com os Governos atuais?
Neste ponto a idéia de sociedade vai se dissociando da idéia de política. O “homem político” de Aristóteles vira “homem social” na formulação de Sêneca, com seus direitos básicos reconhecidos por uma lei aceita, vigente e sob a tutela do Estado. Agora o homem vive o seu dia-a-dia sem se preocupar com as decisões coletivas, sem a política.
Ao longo da Idade Média, o “poder político” e o “poder religioso” passaram a atuar discaradamente lado a lado estabelecendo um ordem que combinava força e persuasão, cuja a figura mais ilustrativa foi sem dúvida o Cardeal francês Richelliet, que encarnou perfeitamente o Estado e a Igreja, maravilhosamente apresentado no romance de Alexandre Dumas.
A superação deste período histórico deu-se pela disseminação das primeiras idéias Iluministas, especialmente através das teorias de Tomás de Aquino, que afirmou pela primeira vez que “O poder é resultado da vontade do povo.”, gerando uma experiência singular rumo a modernidade, cujo o maior efeito foi a autonomia da esfera política, agora liberta das vontades de Deus!
Devo aqui ressaltar que o traço distintivo da “Modernidade” dado pelo Iluminismo, aquilo que lhe confere toda uma singularidade, é a “RAZÃO”. Não devemos considerar a Razão enquanto “simples pensar”, mas a Razão enquanto “essência” do homem, seu princípio, celebrizada pela frase de Descartes: “- Penso, logo existo!”.
Ao definir os homens como racionais, livres e iguais, tornou-se impossível aceitar um fundamento para a existência do poder político que não esteja calcado na própria RAZÃO.
Mas os tempos mudaram e a economia é implacável. Cada vez trabalhamos mais para termos menos, o que torna o tempo o mais precioso bem da sociedade moderna, possibilitando que hoje em dia o conceito popular de política seja encoberto pela sua complexidade, escondendo a infeliz idéia que a “política é tudo” ou que “tudo é político”!
Por ser tão complexa, a nossa participação política parece ser sempre irrelevante, insignificante, desnecessária, invertendo assim a função básica desta atividade que é servir ao coletivo, pois como o indivíduo não participa das decisões ele passa a viver ao sabor dos desejos de terceiros, como em uma ditadura.
Senão vejamos o uso trivial, vago e às vezes um tanto pejorativo, que fazemos do termo política, como substantivo ou adjetivo, que normalmente compreende as ações, comportamentos, intuitos, manobras, entendimentos e desentendimentos dos homens para conquistar o poder, ou uma parcela dele, ou um lugar nele, através de eleições, campanhas eleitorais, comícios, lutas de partidos, conchavos, etc... Tudo remete a atos mandatários que não nos escutam, porém nós achamos normal a situação e ficamos estáticos perante ela, aceitando-a passivamente.
Existe também a conceituação erudita, no fundo uma síntese cruel do conceito popular, pois considera política a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo. É a noção dada por Nicolau Maquiavel, em seu famoso livro “O Príncipe” e adotada pela maioria dos polítcos profissionais das democracias ou das ditaduras para convecer os outros indivíduos que suas fraquezas são eternas e que eles devem servi os fortes alegremente.
Já para a ciência, a política que interessa é aquela atividade capaz de resgatar a ação humana que busca, pela concentração institucional do poder, sanar os conflitos e estabilizar a sociedade pela ação da autoridade, ou simplesmente o processo de construção de uma ordem baseada na vontade coletiva, tal qual fazíamos ao descer das árvores, antes de conhecermos a propriedade privada.
Seja lá o conceito adotado, sempre considerei que política é a participação do indivíduo na vida coletiva, independente de grau de influência ou da esfera considerada (família, amigos, vizinhos, municipal, estadual, federal, time de futebol, etc...), sendo essencial existir uma boa comunicação entre os membros desta coletividade.
Neste sentido, política é, em essência, a boa e velha conversa “fiada” do dia-a-dia na praça, na casa, no bar, na rua, na clube, na cachoeira, na praia, na festa, onde você estiver e com quem você estiver.
Se você prestar atenção verá que é através da “fofoca social”, a conversa do dia-a-dia, é que transmitimos as necessidades uns dos outros, possibilitando assim que a ajuda coletiva do grupo chegue ao(s) necessitado(s).
Vamos conversar mais, sobre tudo e com todos ! Vamos fazer mais política ! Vamos reconstruir nossas Ágora !

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