quinta-feira, 12 de maio de 2011

Sugestões Culturais


A Cultura é a chave para se compreender os valores que sustentam uma sociedade ou civilização. Neste sentido, torna-se imperativo que existam ações que alimentem tais valores para que haja a perpetuação destes e, por consequência, a continuação da sociedade ou civilização em questão. A não ser que se queira alterá-los !!!

Mas o que é Cultura ???

O termo “Cultura” é erroneamente utilizado no dia-a-dia para definir as artes em geral. Contudo, seu significado real é muito mais abrangente, pois ela é o elo que nos une em comunidades, sociedades ou civilizações, o que uma vez compreendido nos faz mudar o olhar que temos sobre elas.

Vivemos coletivamente, unidos fortemente por elos de comunicação tais como a fala e os gestos expressivos e é por meio deles que experimentamos a vida, a morte, o amor, os desejos, dentre outras coisas. E não só temos a necessidade, quase desesperada, de nos expressar, como nos tornamos muito criativos quando fazemos isto! Afinal, é difícil não responder “bom dia!” a uma pessoa, não nos sentirmos convocados a ir sofrer em um velório, ou fazer loucuras por amor.

Enfim, é vital nos expressarmos emocionalmente. Mas, para isto, utilizamos de uma habilidade especial: o trabalho (Por favor não confundir com “o emprego”, no qual apenas vendemos a nossa força de trabalho a outra pessoa!).

Tal qual Karl Marx nos ensinou, o Ser-Humano distingue-se das outras espécies do planeta pela sua capacidade de pensar e analisar o meio-ambiente em que está inserido, transformando-o a seu favor por meio do seu trabalho.

Sendo assim, trabalhando criamos as artes, aprendemos a calcular, entendemos o átomo e o cosmos, criamos cidades para morarmos, e fazemos tantas outras coisas baseadas em nossos valores culturais coletivos (Lembra da morte, da fala, da vida, dos desejos etc...). Em outras palavras, nós utilizamos o trabalho para expressar e manter os elos de comunicação que tendem a nos unir, fortalecendo nossos laços coletivos. Portanto, tudo em volta de uma sociedade moderna pode e deve ser considerado Cultura!

Neste sentido, Cultura passa a ser um todo de “significados e símbolos”, ou seja, toda a variedade de modos de vida, crenças, hábitos, conhecimentos, valores e práticas das diversas sociedades humanas, significando também um modo de produção, uma vez que também propaga as idéias defendidas pela mesma sociedade que a criou com o intuito de perpetuá-la.

E assim podemos entender a Cultura como sendo o pilar de uma sociedade, e por consequência o instrumento por meio do qual podemos transformá-la, positiva ou negativamente.

Vou dar-lhes um exemplo. Imaginem um museu da segunda guerra mundial, cheio de bandeiras, uniformes, armas e símbolos enaltecendo a gloriosa campanha da FEB (Força Expedicionária Brasileira). Sairíamos dele com um enorme orgulho de nossos soldados e repudiando o nazismo alemão.

Mas se a Alemanha de Hitler tivesse vencido a “2º Grande Guerra” provavelmente o mesmo museu mostraria fatos que nos fariam enaltecer a queima de judeus, a ditadura e adoração por um louco.

Como vêem, nossas expressões culturais são nossos pilares. Portanto, devemos cuidar bem desses pilares para que não sejam corrompidos. Contudo, devemos também deixá-los evoluir naturalmente, respeitando a cultura do outro e, se possível, aprender com ela. Como disse Machado de Assis através do Senhor Brás Cubas: “acredite sempre em você, mas não duvide de alguns...”.

Para aqueles que gostam de ações práticas, reproduzo aqui a carta que enviei ao Prefeito de Caeté ao raiar de seu segundo mandato, contendo sugestões de ações culturais. Talvez alguém aproveite as idéias nela contidas...

“Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal de Caeté,
 Dr. Ademir de Carvalho

Venho por meio desta, sugerir adequações quanto à postura e ao funcionamento da Fundação Casa de Cultura, visando o seu maior aproveitamento junto à administração pública municipal e, principalmente, junto à população caeteense.

Tal adequação, necessariamente, passa pela adoção de um novo conceito para o termo CULTURA, usualmente usado para definir eventos artísticos clássicos ou rituais tradicionais, mas que as ciências sociais modernas definem como sendo um “todo de significados”. Significados estes que se referem aos valores que cada um de nós, individual e coletivamente, considera importante o suficiente para transmiti-los às gerações futuras, tais como família, democracia, culto à memória, conhecimento científico, ritos religiosos e muitos outros, inclusive as artes, clássicas ou não.

Esta mudança conceitual implica em uma nova política pública para o setor, pois seus horizontes serão bem maiores dentro deste novo conceito, não sendo mais determinante incentivar apenas as artes e os rituais clássicos, mas também o conhecimento, a democracia, a cidadania, assim como todas as artes (Lembrando que são sete diferentes tipos de arte), sempre respeitando os limites e desejos das diversas comunidades.

As ações a serem trabalhadas exigirão uma mobilização popular, pois somente a participação ativa da população garantirá a continuidade e o aperfeiçoamento desta nova política pública para a Cultura. É bom lembrar que tal política não seria muito onerosa aos cofres públicos, visto que as ações a serem desenvolvidas implicam em parcerias com as comunidades e empresas, bem como o uso da infra-estrutura pública já disponível, como o uso do prédio do cinema ou do Poliesportivo.

De posse deste novo conceito de CULTURA e de uma nova política, a Fundação Casa de Cultura deve “atuar pensando globalmente e agindo localmente”, ou seja, deve identificar e fomentar, por meio de projetos reconhecidamente testados, os valores significativos das diferentes comunidades de nosso município, conforme as suas necessidades específicas.

Como exemplo de ações a serem trabalhadas, podemos citar a criação de um grupo de teatro municipal único ou para cada bairro, um concurso de “curtas metragens” e fotografias sobre a cidade, o incentivo de apresentações dos grupos tradicionais pelas praças e bares da cidade (Congados, maracatu, bandas de música, corais etc...), a realização de um festival de corais (Incrível, mas Caeté deve possuir uns 6 corais!), o incentivo à curiosidade científica nas escolas por meio de feiras de ciências, a criação de escolinhas de música pop (Rap, Funk, MPB etc...), o estímulo a competições esportivas (Skate, bicicleta, corrida etc.), aos concursos de poesias ou aos concursos de “comida de buteco”, a criação de salas de sarau nos bairros, a reestruturação do carnaval caeteense dentro da modernidade, a divulgação da Semana Santa, a recolocação da Serra da Piedade e suas atividades em nosso mapa, a realização de parcerias com municípios vizinhos e muitas outras ações que sempre devem ser balizadas pela parceira com a comunidade, pelo uso racional da infra-estrutura existente e pela diversificação e flexibilização dos projetos. Com todas estas possibilidades, a Fundação Casa de Cultura passaria a trabalhar em parceria com todas as outras secretarias, não tomando-lhes o lugar, mas utilizando-se racionalmente das estruturas que dispõem.

Em vista do exposto Senhor Prefeito, creio que a CULTURA não deve ser mais orientada para as poucas e grandes apresentações, mesmo porque o público que as freqüenta dispõe de capital para assisti-las em BH ou outro pólo. Deve sim ser focada nas necessidades específicas de cada comunidade, tornando-se real, viva, palpável aos olhos do morador da comunidade. Não pode e não deve ser uma coisa distante, inatingível. Vale ressaltar que as ações localizadas são mais econômicas em seus custos e muito mais interessantes para o aumento do capital político, dado que a população mais carente passa a ser a maior beneficiada.

Sem mais, desejo-lhe sucesso maior em seu segundo mandato, bem como me coloco a disposição para ajudar a melhorar a nossa cidade no que for possível.

Caeté, 17 de novembro de 2008

Cordialmente,
Nelson Alves da Silva.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Paradigma Capitalista e o Uso do Planeta




Ao ver tanta miséria e fome no mundo, torna-se difícil não defender o crescimento econômico mesmo frente à degradação ambiental. Um estudo um pouco mais aprofundado nos mostra que, na verdade, o crescimento econômico só acontece porque nós não pagamos a conta para com a verdadeira fornecedora dos recursos naturais que viabilizam esse crescimento, a natureza do nosso planeta.

Do ponto de vista econômico, os recursos naturais são divididos em três categorias, sendo:

a)  Recursos naturais não renováveis: aqueles que não têm capacidade de autoregeneração, tais como os minerais ou combustíveis;

b) recursos quase renováveis: aqueles que possuem um ciclo de existência ou dependem da criação de novas tecnologias como a água, que depois de evaporar retorna em forma de chuva, ou energia; e

c) dejetos: que são todo o tipo de lixo.

Portanto, o crescimento econômico é caracterizado pela exploração ilimitada destes recursos naturais e pela não privatização destes, o chamado “Capital Natural”. Em outras palavras, todo mundo usa e ninguém paga nada ao dono, no caso o planeta Terra!

O desequilíbrio que vemos hoje é o resultado desta exploração em escala mundial. É um nítido “Desinvestimento do Capital Natural”, que significa, em termos econômicos, o esgotamento dos recursos não renováveis, o uso inadequado dos recursos quase renováveis, e o aumento dos dejetos, provocando impactos ambientais de todo tipo (Poluição, doenças etc...).
   
Ao compararmos as economias mundiais ou mesmo as municipais, levamos em consideração a geração de produtos e serviços mostrados nas estatísticas de desenvolvimento constantes em seus balanços.

Porém, esta visão equivocada, simplesmente ignora os custos ambientais embutidos nos processos. Assim, quanto mais rápido uma cidade destrói sua floresta, esgota suas reservas hidrográficas ou exaure seus depósitos minerais, mais elevados serão seu produto interno bruto (PIB) e sua renda “per capta”, dando a impressão que sua economia é altamente desenvolvida. Entretanto, este suposto desenvolvimento econômico representa um custo real, físico e muito alto não embutido nas contas dos balanços, e, se levarmos em consideração que este crescimento depende do uso sempre crescente dos recursos naturais, o que fisicamente não acontece, a coisa fica pior. Por exemplo: nós não fabricamos água, mas a usamos praticamente em todos os processos de produção.

Para se ter uma idéia, cientistas econômicos calcularam, no final dos anos 80, quanto deveríamos pagar para a natureza pelos serviços prestados, tais como a filtragem do oxigênio e da água, o fornecimento da chuva que cai na plantação, a absorção de dejetos venenosos pelo solo, ou até mesmo a simples disponibilização de cenários e paisagens que nos dão tanto prazer. Chegaram à conclusão que, durante um ano, deveríamos pagar ao planeta cerca de “38 trilhões de dólares” por estes produtos e serviços. Para efeito de comparação, no mesmo ano do referido cálculo, as vinte maiores economias do mundo somadas geraram cerce de 18 trilhões de dólares.

Como podemos verificar, as políticas conservadoras não consideram estes custos nas análises de suas atividades de produção, serviço e consumo e deveriam, pois, na verdade, elas são a essência de qualquer sistema econômico.

Em uma nova visão política, distinta da tradicional, tem-se uma abordagem multidisciplinar que leva em conta os princípios e as leis da natureza, constituindo-se essa visão numa ciência inovadora voltada para o entendimento e a gestão da sustentabilidade da vida na Terra.

Esta nova ciência baseia-se no princípio de que devem ser praticadas, na economia e na vida, regras que conduzam a uma máxima eficiência e a uma mínima perda nas transformações produtivas, entendendo também que tudo o que se retira do meio ambiente retorna ao mesmo, seja como produto ou como lixo.

Dentro desta perspectiva, a natureza passa a ser integrante do sistema produtivo, adquirindo significados bem distintos dos que tinha no pensamento conservador, sendo agora vista como:

a)  Fornecedora de recursos (Ex: extração de matéria prima);

b)  Fornecedora de bens e serviços (Ex: paisagens naturais);

c)  Assimiladora de dejetos (Ex: lixo de qualquer tipo).

Nesta nova visão, o meio ambiente não é separado da vida, da sociedade ou da economia. Ele é a dimensão em que estas se concretizam. É a dimensão em que todas as nossas atividades ocorrem, proporcionando os recursos essenciais (matéria prima) para a


transformação de nosso meio e recebendo, como uma fossa, todo tipo de lixo em que se convertem os produtos, filtrando-os e devolvendo-os ao processo.

Neste conceito, é de extrema importância entendermos que o meio ambiente, ou seja a natureza, não pode ser colocado em segundo plano em nosso planejamento, pois o uso dos recursos naturais e o lançamento de dejetos não podem sobrecarregar ou interferir nos ciclos naturais, sob pena de uma interrupção no fornecimento destes recursos em nossos processos de produção.

É essencial que este novo conceito seja considerado em primeiro plano, pois a interrupção no fornecimento destes recursos que o meio ambiente nos proporciona significa também o fim da vida neste planeta, ou pelo menos o fim da espécie dominante, nós!

Porém, o uso racional do meio ambiente nos levará a um Desenvolvimento Sustentável, o que permitirá que nossos filhos e netos continuem a comer com talheres de metal, em pratos de louça, utilizando guardanapos de papel, bebendo água limpa e admirando a vista, como a da Serra da Piedade que eu, pessoalmente, acho linda.